sábado, 17 de fevereiro de 2007

O processo neoliberal: uma abordagem histórica

“Não se pode falar de queda sustentada da taxa de juros quando ela foi mantida de forma sustentada durante os governos Reagan nos níveis médios da crise do petróleo de 73/74, quando os neoliberais se emplumaram todos para dizer que as políticas keynesianas “não funcionavam”.”

Neoliberalismo e Solidariedade

A não ser que você queira brigar com os fatos, pode-se sim falar em queda sustentada das taxas de juros nos EUA durante o governo Reagan. Isso está exposto tanto no gráfico quanto nesta tabela (http://mortgage-x.com/general/indexes/prime.asp).

E os fatos mostram que o governo Reagan pegou a taxa de juros em 20% ao ano e ela veio declinando até 10% ao ano no final do governo dele. A não ser que você queira mudar o entendimento da palavra “queda”, o que se viu foi uma “queda” das taxas de juros. Uma outra curiosidade seria o uso do termo “neoliberais” em 73/74, e mais curioso ainda é falar que os “neoliberais” falavam que as políticas keynesianas não funcionavam.

Política fiscal do Reagan, durante seu mandato, na década de 80, é de cunho keynesiano.

Segundo. Nunca ouvi falar que políticas keynesianas “não funcionam”. É óbvio que funcionam, pegue qualquer modelo macroeconômico keynesiano e verifique que aumentando-se “G” você tem aumento de “Y”. O que se discute não é se elas funcionam ou não, é consenso, inclusive matemático, que elas funcionam, mas se outro tipo de política poderia eventualmente funcionar melhor.

Curiosamente, o governo Clinton, adotou uma política fiscal não keynesiana, de forte contenção de gastos públicos, e exatamente durante o governo dele os EUA experimentaram seu maior crescimento econômico no pós-guerra. ”Que você concorde comigo que “a escalada da dívida externa brasileira foi resultado das políticas de juros consistente e sustentadamente praticadas pelos governos Reagan” (e o governo Carter produziu um efetivo rebaixamento da taxa de juros para os níveis anteriores ao dos choques do petróleo de 73/74) significa, como conclusão corolária, que o nível de endividamento externo brasileiro não foi obra deliberada dos governos militares (já que o maior percentual dos empréstimos tomados a partir de 78 destinavam-se à rolagem da dívida).” Não.

Eu não posso concordar com você porque eu não posso brigar com os fatos. O Brasil, e a maioria dos países do terceiro mundo, se endividou fortemente no período subseqüente à segunda crise do petróleo em contratos pós-fixados indexados à Prime Rate. E os fatos e o gráfico e a tabela que eu já citei me mostram que quem elevou as taxas de juros dos EUA de níveis de 7 a 8% para 20% foi o governo Carter, e não o Reagan, que as trouxe de volta para patamares de 9%..10%! De qualquer forma, falar em níveis de taxas de jurosem governo Carter ou Reagan é inapropriado, tendo em vista que o FED é uma entidade independente e a política monetária dos EUA não é definida na Casa Branca.

Entretanto, se mesmo com os fatos você insiste em dizer o contrário, não posso fazer nada, mas o debate parte para outro campo, que não o da ciência e da história. Talvez o da culinária, ou da ficção, talvez. “Pode-se até dizer que foi obra de uma política econômica temerária, o que é o mesmo que não dizer nada, porque o dinheiro internacional era barato desde o final da Segunda Guerra, e financiou parte substancial do crescimento econômico europeu e japonês.” Uma coisa que você ainda não percebeu é que eu não estou criticando os governos militares. Nem o comparando com o governo do FHC, mesmo porque acho impossível esse tipo de comparação, são momentos históricos distintos, outro tipo de contexto, econômico, tecnológico, político e social.

Com isso, o argumento de que os governos militares legaram ao Brasil uma dívida externa impagável cai por terra se não forem considerados os condicionantes externos. Eu nunca falei isso. Aliás, nunca achei a dívida externa brasileira impagável, sobretudo em termos econômicos. O fato, porém, que a dívida externa brasileira, inflada pelos juros do governo Carter, gerou alguns problemas de ordem financeira, que se refletiram no aspecto econômico. Mas, do ponto de vista econômico, nunca foi impagável.

”Essa mesma dívida externa que se tornou catastrófica por conta das políticas neoliberais dos governos Reagan financiou a modernização do parque industrial e da infra-estrutura produtiva brasileira, ao custo de arcar com todos os riscos da expansão da fronteira industrial.”

Políticas neoliberais do governo Reagan? Com expansão dos gastos públicos? Isso é neoliberal, agora? Não sabia. 

“Depois de corridos todos os riscos e arcados todos os custos, fica realmente muito fácil pedir pra distribuir os ativos a preços sub-avaliados, porque tudo que o empresariado privado sabe fazer é predar. No fim das contas vemos que o sacrifício da dívida externa brasileira serviu para a canalha neoliberal (tucana incluída) montar seu esquemão de privatização, com direito a Banestado e outros penduricalhos.”

Para ficar apenas no sistema Telebrás, vemos um resultado final de mais de US$ 30 bilhões.


Se isso é subavaliado, então mais sub-avaliado estão agora, dado que tais empresas valem menos do que isso no mercado acionário. Agora, eu realmente gostaria de saber o que você está defendendo. No começo era que o governo Reagan subiu juros, e que isso quebrou o Brasil e financiou a corrida armamentista contra a ex-URSS.

Foi demonstrado que o governo Reagan diminuiu os juros e que os países do 3º mundo entraram em default, portanto não puderam financiar nada. Depois, a comparação do governo militar com governo FHC. Afinal, qual sua tese? A de que os tucanos são malvados e os milicos e os petralhas bonzinhos? Então ta. Vamos debater futebol, então.

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