segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os resultados eleitorais de uma bolha imobiliária

Desde a estabilização monetária (1995) e fiscal (2001) da economia brasileira, se sabia que o setor de construção civil teria que ser fomentado. O próprio Mistério das Cidades era uma proposta para coordenar as políticas do governo federal de aperfeiçoamento e ampliação da infra-estrutura urbana do país.

Rio de Janeiro - valorização imobiliária de 165% desde janeiro de 2008
Rio de Janeiro - valorização imobiliária de 165% desde janeiro de 2008
Na teoria, deveria ter ocorrido um grande investimento em ampliação de áreas urbanas e infra-estrutura e transporte coletivo, sendo o trem bala Campinas-SP-RJ fazendo parte desse pacote de projetos que teriam o objetivo de ampliar a infra-estrutura urbana para permitir um fomento ao setor de construção civil em um momento subsequente.

Quando se tivesse um aumento progressivo de áreas urbanas disponíveis para construção civil, e transporte público e eficiente para as áreas urbanas dessas megalópoles (como Campinas-SP-RJ), inciaria-se o estímulo ao setor privado, com financiamentos mais longos, juros mais baixos e programas destinados à baixa renda.

Isso aconteceria se o Brasil fosse um país, de fato, republicano. Ocorre que, desde 2003, assistimos a uma subordinação total do Estado nacional aos interesses eleitorais de curto-prazo do partido que está no poder e seus aliados.

O Ministério das Cidades se tornou moeda de troca no toma lá dá cá do "presidencialismo de coalizão", sendo usado apenas como instrumento de cooptação política de bancadas no Congresso. Suas funções institucionais foram sumariamente ignoradas.

Da mesma forma, sua "eçelençia o companheiro", que antes era contra programas de transferência de renda, passou a achá-los a melhor invenção da humanidade (e, portanto, dele) quando descobriu que poderia usá-los para criar um curral eleitoral.

Na mesma linha, ajuste fiscal é bom, mas só pode ser feito nos dois primeiros anos do governo, pois nos dois últimos tem que torrar até o último centavo de dívida pública para fomentar a candidatura oficial.

Se ocorre uma crise, como em 2008, a primeira atitude foi negá-la. Depois que se constatou o tamanho do problema, optou-se por tentar fazer do "limão uma limonada". E assim foi feito.

Sem que o Ministério das Cidades tivesse avançado um milímetro em seus objetivos institucionais entre 2002 e 2008, o governo federal lançou mão do programa Minha Casa Minha Vida e turbinou o setor de construção civil, pois estava claro que a eleição de 2010 corria risco mantidas as então condições de temperatura e pressão econômicas.

É evidente que se sabia que o estímulo à construção civil brasileira não teria efeitos de melhoria da qualidade de vida da população pelo simples fato de que a oferta de infra-estrutura urbana do país não iria dar conta de tamanha demanda.

Valorização imobiliária média São Paulo e Rio de Janeiro - Jan-2008 a Mar-2012
Valorização imobiliária média São Paulo e Rio de Janeiro - Jan-2008 a Mar-2012

O resultado é que os preços dos imóveis explodiram, como apontado no gráfico acima que mostra a valorização imobiliária média de SP e RJ entre 2008 e 2010. O fomento ao setor cumpriu seu objetivo: criar na sociedade uma idéia de que agora todos vão poder ter casa e assim votar na companheira.


Correlação crédito imobiliário x preços dos imóveis [São Paulo e Rio de Janeiro]
Correlação crédito imobiliário x preços dos imóveis [São Paulo e Rio de Janeiro]

O gráfico acima mostra a variação do crédito imobiliário (barras azuis) e a trajetória do preço do metro quadrado médio SP-RJ no mesmo período, onde fica nítido que a maior variação de preços ocorreu após o fomento do crédito imobiliário em 2008. Ante a falta de investimento público que permitisse uma ampliação da oferta da infra-estrutura urbana, todo estímulo de crédito foi parar nos preços dos imóveis, anulando qualquer efeito social da medida.

E, o povo, que já votou como se esperava, continua na mesma situação de antes: sem a menor condição de ter casa própria, pois apesar da maior oferta de crédito, os preços subiram tornando a dificuldade relativa de se ter um imóvel no mesmo lugar.

Conclusão

O Estado brasileiro desde 2003 não faz mais planejamento de longo prazo. Tudo agora é subordinado ao calendário eleitoral de curtíssimo prazo. Um dos efeitos visíveis desse processo é a Bolha Imobiliária que se vê no mercado de imóveis no Brasil, causada por uma injeção de crédito no setor sem que houvesse um prévio investimento em infra-estrutura urbana.

De qualquer forma, do ponto de vista do governo federal e de seu principal partido, o fato de ter bolha e do déficit habitacional continuar no mesmo lugar é apenas um detalhe, pois o principal objetivo dos estímulos à construção civil já foram atingidos: a eleição de 2010 foi vencida.

Agora assiste-se uma espécie de segundo-turno desse processo, tentando-se, com intervenções voluntaristas no mercado de crédito e de juros, criar um ambiente mais favorável aos candidatos oficiais nos pleitos municiais de 2012.

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