sábado, 14 de dezembro de 2019

Resenha: Elites Agrárias, State Building e autoritarismo

A autora Elisa Pereira Reis propõe em seu artigo "Elites Agrárias, State Building e autoritarismo" um modelo teórico sobre o papel das elites agrárias na formação do Estado moderno brasileiro e sua concepção autoritária, e faz uma análise do processo brasileiro comparado ao da Alemanha.

Resenha: Elites Agrárias, State Building e autoritarismo

Os traços autoritários da sociedade brasileira têm explicações no campo cultural e também institucional jurídica-política, neste caso oriundo da formatação do patrimonialismo burocrático português.

A autora pondera a influência das estruturas agrárias na consolidação da ordem política nacional, e que a modernização brasileira aconteceu por meio de uma revolução liberal-burguesa, com: estabelecimento de mecanismos de controle mútuo entre aristocracia rural e estado; estabelecimento de uma agricultura comercial; enfraquecimento oportuno da classe proprietária rural - caso esta classe se mantenha forte, o autoritarismo permanece; coalização entre elites urbanas e agrárias; necessidade de uma ruptura revolucionária.

Outros aspectos que devem ser levados em consideração é a inclusão do Estado como ator político com fim em si mesmo, e as escolhas dos atores políticos.

O processo de modernização do Estado brasileiro é historicamente marcado com a queda do Império e abolição do regime de escravidão.

Entretanto, ao contrário do que aconteceu nos EUA, a transição para o modelo de trabalho livre não foi conflituosa, já que não havia duas visões de capitalismo antagônicas na sociedade. Nesse sentido, a abolição da escravidão foi um processo importante, mas não revolucionário, já que partiu de uma coalizão de interesses entre latifundiários do Sul/Sudeste e Nordeste - o que impediu o enfraquecimento dos grandes senhores rurais.

A queda do Império também ocorreu em favor das elites agrárias, sendo que o Estado da primeira república era altamente permeável aos interesses agrários, o que determinou o uso do estado para intervenção na economia em benefício das elites agrárias.

Posteriormente, com a reforma constitucional de 1926, o Estado brasileiro caminha para um modelo liberal-democrático. Assim, quando ruiu a política dos fazendeiros, em 1930, o Estado brasileiro já estava pronto para absorver novos atores políticos relevantes.

As elites agrárias perdem poder relativo, mas se mantém no poder, dividindo-o com as elites industriais.

A comparação do processo brasileiro com o caso da Alemanha é interessante já que a elite agrária alemã, oriunda da Prússia, dominava o cenário político local, e levava a nação para uma modernização de cima para baixo, ou seja, também de modernização capitalista autoritária.

Tanto no Brasil quanto na Alemanha, as elites rurais foram capazes de fazer o estado intervir no mercado em seu benefício, e mesmo a emergência da burguesia não erodiu o poder da elite agrária. Nos dois casos há uma ausência de ruptura revolucionária - o que corrobora o aspecto autoritário.

Referências bibliográficas

REIS, Elisa Pereira. "Elites agrárias, state-building e autoritarismo". Dados — Revista de ciências Sociais, v.25, n. 3, 1982, p. 331-347.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: comentários que contenham palavras de baixo calão (palavrões) ou conteúdo ofensivo, racista, homofóbico ou de teor neonazista ou fascista (e outras aberrações do tipo) serão apagados sem prévio aviso.

alert('Olá prazer em conhecê-lo!'); alert('Olá ' + comment.authorUrl + ', prazer em conhecê-lo!');