sábado, 17 de fevereiro de 2007

O Plano Real

"No mesmo sentido é o regime de metas de inflação como ponto de controle inflacionário. Note que as metas de inflação não têm efeito prático muito relevante."


O aspecto central do modelo de metas de inflação é a redução da percepção de risco dos agentes, que é precificado na taxa de juros real pedida para financiar a dívida pública mobiliária.

O modelo de metas de inflação é baseado nos conceitos de rational expectation coisa que vc não deve saber nem do que se trata. Mas fica óbvio que o custo de financiamento do Estado (taxa de juros real) é muito menor quando a percepção de risco é reduzida, e isso é conseguido gradativamente, até o ponto em que todos os agentes entendem o BC como extremamente competente e agente dotado das melhores informações sobre o mercado.

"O maior efeito é psicológico, desvinculando a expectativa inflacionária futura da inflação passada mais ganhos, por existir uma perspectiva oficial e condiável de inflação, que servirá como base para o cálculo dos preços e contratos com vencimentos futuros.

Assim, reprime-se o crescimento da chamada "inflação inercial"."


Acho que ele não sabe que o pessoal que trabalha com expectativas racionais e metas de inflação acredita tanto em "inflação inercial" quanto em coelhinho da páscoa e papai Noel....mas..obviamente, nada

 "O Plano Real atacou de forma brilhante a inflação inercial, criando duas moedas, uma descolando-se em relação a outra, e evitando que a expectativa inflacionária (inércia) de uma moeda fosse transmitida a nova moeda. Esse sim o grande problema atacado por esse mecanismo."

Eu não acredito que a derrubada da inflação pelo Plano Real tenha se dado dessa forma. O problema não era inflação inercial, a não ser que você entenda "inflação inercial" como indexação. O problema era a indexação.

Na minha opinião, o que aconteceu foi o seguinte: se o problema é indexação, então vamos indexar todo mundo no mesmo indexador, e aí, quando tá todo mundo indexado, ninguém mais está indexado.

Isso é apenas a parte inicial do plano, ocorre que o Plano Real é muito mais do que isso. O FHC tinha conseguido, 1 ano antes, aprovar no Congresso um aumento forte de impostos para fazer frente aos deseqilibrios fiscais que eram a origem primária da inflação. Além disso, depois da transformação da URV em Real, tinha um orçamento fiscal mais condizente, e, além de tudo, as importações estavam bombando para domesticar a inflação internamente, via cãmbio sobre-valorizado - intencionalmente, diga-se de passagem.

Então, o Plano Real foi uma âncora cambial até a desvalorização do real em 1999, depois migrou para uma âncora monetária (taxas de juros) e, desde 2001, estamos na transição da âncora monetária para a fiscal (ajuste fiscal).

 "A indexação ancorava as expectativas. Um modelo de expectativas racionais puras não faria sentido naquele caso. A inflação no caso brasileiro com correção monetária já incorporada na ecocnomia e a todo vapor, tinha um forte componente inercial."

Sinceramente, não acredito nisso por uma razão muito simples. A TR foi criada exatamente partido da premissa de que a inflação passada contaminava a futura, e que isso acontecia por meio do indexador usando até então (OTN/ORTN). Note que a TR foi criada pela Zélia, substituindo a OTN, e a TR é uma expectativa de inflação futura, pois é a média geométrica da rentabilidade oferecida pelos Certificados de Depósitos Bancários, logo é uma medida da inflação futura.

Quando o Plano Real entrou a TR já existia fazia tempo, e, portanto, a indexação na economia acontecia por expectativas de inflação futuras e não inflação passada.

Acho que o problema principal era a indexação, tanto é que o processo de limpeza da legislação que permitia a indexação só terminou no começo do 1998, momento a partir do qual acredito que seria possível flexibilizar a âncora cambial (mas é fácil ser engenheiro de obra feita).

 Melhor dizendo, o problema principal não era a indexação. O problema principal é, e continua sendo, o desequilibrio orçamentário. Hoje está infinitamente melhor, depois de privatização dos Bancos "Centrais" Estaduais (que literalmente emitiam moeda), da Lei de Responsabilidade Fiscal, depois da assunção dos esqueletos na dívida pública, enfim, depois da cirurgia que o Fernando Henrique fez no Estado brasileiro.

A indexação era um problema inicial apenas nos planos de combate à inflação.

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