O capitalismo brasileiro está realmente entrando numa nova fase. Uma fase muito mais moderna, menos cartorial, menos de conchavos, e de mais competência, de competição, de transparência, de mercado.
Já faz um bom tempo que o BNDES deveria ser extinto, pois é realmente interessante ver como é que o Estado brasileiro toma dinheiro emprestado numa ponta à Selic (hoje, em 13%) e empresta na outra a TJLP (hoje, em 6.5%).
Pois bem, com a redução dos juros, as empresas estão dando banana para o BNDES e migrando para a Bolsa de Valores, que é um processo muito mais saudável, inclusive por promover a distribuição de renda e a cultura do empreendedorismo e do investimento.
A notícia saiu no Estadão:
Empresas trocam BNDES pela Bolsa
Em 2006, companhias arrecadaram R$ 110 bi com a venda de ações, mais que o dobro dos desembolsos do banco
Marcelo Rehder
As empresas têm recorrido ao mercado de capitais como fonte de recursos de longo prazo para financiar atividades e investimentos numa freqüência jamais vista no País. No ano passado, o total captado pelas companhias chegou a R$ 110,2 bilhões, mais que o dobro dos desembolsos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O montante representa crescimento de 78,9%, se comparado aos R$ 61,6 bilhões de operações em 2005. Para este ano, a expectativa é de expansão de, pelo menos, 30%.
"O mercado de capitais já é hoje a maior fonte de financiamento das empresas brasileiras", diz Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em 2006, as companhias captaram R$ 69,5 bilhões por meio de debêntures, o que representou um incremento de 67,4% em relação aos R$ 41,5 bilhões de 2005, que já haviam sido recorde. As captações por meio de oferta de ações também bateram recorde no ano passado. As empresas captaram R$ 14,2 bilhões, mais que o triplo do ano anterior.
Além de fonte de financiamento, o mercado de capitais tem sido um fator determinante de sucesso para o desenvolvimento do País. Nesse sentido, houve uma mudança cultural no meio empresarial. "O empresário percebeu que sozinho já não se consegue fazer praticamente mais nada", diz o presidente da Bovespa. "Quem quiser se desenvolver no mercado doméstico ou no exterior, precisa ter sócios, fazer parcerias."
Mas o mercado de capitais não é opção para qualquer empresa. A começar pelo custo de abertura do capital, que não é barato. De acordo com bancos de investimento, para a estruturação da oferta pública de ações o desembolso varia de US$ 1 milhão a US$ 1,5 milhão. Os bancos cobram taxa de serviços que hoje gira em torno de 5% do valor total da captação. Além disso, a empresa precisa ter boa governança corporativa e obter lucros para distribuir dividendos aos acionistas. Do contrário, o preço das ações despencará e ela não deverá conseguir captar novos recursos.
"Os gastos inviabilizam o acesso da pequena empresa ao mercado de capitais", diz Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). "Já para as grandes e médias empresas, o custo-benefício ainda representa um bom negócio." Segundo pesquisa mensal da Anefac, a taxa média de juros cobrada pelos bancos nos empréstimos à pessoa jurídica estava em 4,19% ao mês em janeiro, o equivalente a 63,65% ao ano.
Para fugir do crédito caro e escasso, empresas de maior porte recorrerem ao mercado de capitais ou ao BNDES, que cobra Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 8,75% ao ano, mais taxa de corretagem, que varia de 0,5% a 2% ao ano. A diferença entre um e outro é que as empresas podem captar recursos no mercado de capitais para financiar projetos que não se enquadram nas liberações do BNDES, como operações de fusão e aquisição de empresas.
A Lupatech, líder na produção e venda de válvulas para indústria de petróleo e gás captou R$ 452,7 milhões e fez algumas aquisições de empresas. Entre elas, estão as argentinas Válvulas Worcester, Esferomatic e Itasa, que juntas totalizaram US$ 64,6 milhões.
De acordo com o diretor de Relações com Investidores da empresa, Thiago Alonso de Oliveira, a Lupatech está em fase de conclusão de negociações para estabelecer parceria com a Cordoaria São Leopoldo, fabricante de cabos para ancoragem de plataformas de petróleo em águas profundas. Se o negócio for concretizado, nascerá uma empresa, que terá investimentos de R$ 80 milhões da Lupatech. Desde que abriu o capital, em maio do ano passado, as ações da Lupatech tiveram valorização de 62%.
MAIS SETE EMPRESAS
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) recorreu ao mercado de capitais para investir na expansão do negócio. A empresa de capital misto, que tem como maior acionista o governo de Minas, captou R$ 813 milhões em 2006, com a distribuição de mais de 30 milhões de ações ordinárias. Suas ações, desde o lançamento, tiveram valorização de 13,6%.
A Totvs, criadora e fornecedora de software de gestão empresarial, captou no mercado R$ 450 milhões. Desse total, destinou R$ 206 milhões para a compra de duas empresas de tecnologia, a RMS Sistemas e a Logocenter.
"As aquisições fazem parte da estratégia de crescimento", diz o presidente da Totvs, Laercio Consentino. "Queremos fortalecer a posição de liderança." Hoje a empresa tem mais de 50% desse mercado. Suas ações valorizaram 53% desde março do ano passado, quando abriu o capital.
O mercado de capitais segue em expansão. No mês passado, sete empresas obtiveram registro da Comissão de Valores Mobiliários para emissão de ações, contra cinco em igual período de 2006. Entre elas, Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário, Companhia Ferroviária do Nordeste e Tecnisa.
NÚMEROS
R$ 110,2 bilhões foi o total captado pelas empresas no mercado de capitais em 2006
30% de aumento é a expectativa para a expansão da captação de recursos para investimentos neste ano
R$ 69,5 bilhões foram captados no ano passado somente por meio de emissão de debêntures
R$ 14,2 bilhões foram captados em 2006 por meio de oferta de ações
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